Espanha introduz plano radical para imigrantes
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portugueseafrica/news/story/2008/09/080904_spainmigrantsplanlc.shtml
Para muitos imigrantes, o trabalho actual vai ser o último
Nos arredores da capital espanhola, Madrid, a estação ferroviária central de "Três Cantos" está a ser completamente renovada.
Debaixo do sol escaldante do meio-dia, trabalhadores migrantes do norte de África, da América Latina e da antiga Europa de Leste movimentam blocos de cimento gigantes nas plataformas e alinham com pedras o espaço entre os carris.
Este trabalho pesado rende a cada trabalhador cerca de 1,200 euros (cerca de 1,900 dólares) mensais, e muitos são os que querem aproveitar esta oportunidade.
Com o sector da construção em crise profunda, o patronato espanhol não tem mais nenhum projecto em carteira, e assim sendo estes trabalhadores já esperam pelo despedimento colectivo uma vez findo este contrato.
Mas, será que algum destes trabalhadores irá aceitar a nova oferta do governo espanhol destinado a migrantes desempregados?
Caso estes trabalhadores estrangeiros decidam voltar aos seus países de origem e não regressar a Espanha por um período mínimo de três anos, poderão concorrer a um subsídio extraordinário no valor de cerca de 18,000 euros (cerca de 26,000 dólares)
O plano abrange cidadãos de 19 países fora da União Europeia com os quais Espanha assinou acordos bilaterais de segurança social.
"Se alguém me oferecesse essa quantia agora, ía-me embora", afirmou Patrick, da Guiné-Equatorial. "No meu país esse dinheiro dava para ir longe, podia até investi-lo", acrescentou.
Guillermo, da República Dominicana frisou contudo que "caso a economia prossiga como até aqui, vamos mesmo todos ter que nos ir embora". Mas dada a possibilidade de esclha, Guilhermo diz preferir ficar: "Já me sinto espanhol", explicou.
Subsídios de desemprego
No espaço de apenas uma década, o número de imigrantes em Espanha cresceu de forma impressionante, havendo hoje 800% mais estrangeiros do que há 10 anos atrás.
A mão-de-obra imigrante provou ser um factor indispensável para o crescimento económico em flecha impulsionado pelo sector da construção. E enquanto havia emprego, Espanha parecia escapar às tensões que noutros países são normalmente associadas à imigração.
Hoje, porém, com uma taxa de desemprego a rondar os 10,7 por cento, o cenário mudou.
"Os imigrantes eram vistos por todos como uma ajuda ao país", explica o economista Pedro Schwarz.
"Os imigrantes encontraram emprego na construção, alimentado o crescimento económico e contendo o crescimento dos salários. Hoje, com o número de desempregados a subir, alguns cidadãos espanhóis queixam-se que os novos imigrantes se estão a aproveitar dos subsídios de desemprego".
Actualmente os cerca de 2,1 milhões de estrangeiros que beneficiam da Segurança Social espanhola são contribuintes líquidos do sistema, pagando mais do que aquilo que recebem.
Mas nos últimos 12 meses, o número de imigrantes que decidem recorrer ao subsídio de desemprego cresceu 81% oara um total de 178,230 no passado mês de Julho.
"Os que estamos a tentar fazer é interligar a imigração ao mercado de trabalho", explica o ministro espanhol do trabalho e imigração, Celestino Corbacho.
"As previsões apontam para que a economia recupere dentro de dois ou três anos, portanto eu penso que é bom oferecer escolhas às pessoas".
"Se oferecermos a alguém 15,000 dólares, esse dinheiro vai concerteza criar mais oportunidades no seu país de origem do que aqui em Espanha".
"Obrigado e adeus"
De acordo com as regras deste esquema - que deverá entrar em vigor já este mês - os imigrantes que decidam participar dele receberiam o equivalente a dois anos de subsídio de desemprego: 40% no momento da inscrição no esquema, e o restante após o regresso, já no seu país de origem
Para serem elegíveis os trabalhadores migrantes terão de entregar às autoridades espanholas os documentos de autorização de residência e trabalho em Espanha durante o peírodo de vigência do acordo.
O governo espanhol insiste que esta medida é ditada apenas pelo senso comum dado os actuais problemas económicos que o país atravessa, mas vários grupos de defesa dos direitos dos imigrantes têm dúvidas.
"Eu sinto-me usado", queixa-se Washington Tobar da Fundação Hispano-Equatoriana, com sede em Madrid.
"Quando precisavam de mão-de-obra barata as portas estavam abertas. Agora, que não precisam de nós, dizem-nos apenas 'Obrigado e adeus' e esperam que nós regressemos aos nossos países".
Num apartamento modesto no bairro La Latina, em Madrid, Leonardo Ramirez, de 42 anos, prepara o almoço para os seus dois filhos.
Licenciado em marketing no seu país de origem, o Equador, Leonardo construiu a sua vida trabalhando na construção civil, até que há um ano, esgotou-se o trabalho.
Hoje em dia Leonardo arrenda um quarto na sua casa para ajudar a pagar o empréstimo da casa. Ele faz parte dos 100,000 trabalhadores imigrantes desempregados que o governo espera aliciar com esta nova oferta.
Mas Leonardo não parece estar muito interessado. "Mesmo 20,000 ou 30,000 dólares não representa muito dinheiro no país de onde venho", diz.
"Estamos a falar de pessoas que têm de comprar casa, e a educação dos filhos é cara. Para além disso as famílias imigrantes já estão aqui integradas e não querem ter de começar do zero outra vez".
Evitar conflitos
Na rua onde vive Leonardo Ramirez, podem ver-se filhos de imigrates a jogar à bola, enquanto que das janelas de outros apartamentos se podem ouvir os sons de música latino-americana dos vizinhos.
Espanha de hoje é completamente diferente da de há 10 anos atrás e o governo está, de uma forma controversa, a tentar voltar atrás no tempo.
Mas o ministro Celestino Carbacho rejeita as acusações de ingratidão de Espanha e nega que os imigrantes estejam a ser usados como desculpa para os problemas económicos que o país atravessa.
"A imigração não é um problema, é um fenómeno", afirma o ministro.
"E os fenómenos nunca são neutrais - eles mudam muitas coisas e criam novos desafios. O nosso desafio é lidar com este fenómeno para que a nossa sociedade, diversa e multicultural, evite conflitos daqui por diante", diz Carbacho.
Esta não deixa de ser uma proposta radical vinda de um governo socialista que pareceu evitar o assunto durante a campanha para as últimas eleições de Março passado, que venceu.
Agora, os políticos esperam, literalmente, que os problemas se esvaneçam por si próprios. Entretanto, outros governos da União Europeia que atravessam os mesmos problemas, vão ficar de olhos postos em Espanha, para avaliar os resultados deste esquema radical.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
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