terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um em quatro imigrantes na Espanha é pobre, diz relatório

Um em quatro imigrantes na Espanha é pobre, diz relatório

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080915_espanhaimigrantes_ai.shtml


Um relatório divulgado nesta segunda-feira na Espanha afirma que um entre cada quatro imigrantes no país já vive abaixo do nível de pobreza.
O documento Inclusão Social da Imigração, da Fundação Caixa Catalunha, indica que 26% das mulheres e 24% dos homens nascidos fora da Europa estão vivendo em condições de pobreza moderada.
Mais da metade dos imigrantes (53%) admite que está chegando ao fim do mês no vermelho, afirma o relatório, que desenha um quadro negativo para os que chegam à Espanha em busca de trabalho - e são os principais atingidos pela crise econômica.
O problema começa com a diferença salarial. Em média, os trabalhadores estrangeiros ganham 20% menos do que os europeus.
Em seguida, está a precariedade do mercado: 58% das mulheres e 54% dos homens imigrantes não têm contrato de trabalho.
O relatório aponta para um "risco de grave fratura social", principalmente porque o número de pobres estrangeiros triplica o de carentes espanhóis.
"O mais preocupante é o quadro infantil. Os menores imigrantes são não apenas os mais pobres, mas também os que padecem de pobreza mais intensa", disse a diretora do Instituto de Infância e Meio Urbano da Catalunha, Carmen Granell, coordenadora do documento.
Segundo os dados que ela apresentou em entrevista coletiva, 52% das crianças filhas de imigrantes estão em risco de pobreza moderada e 28%, de pobreza severa, um índice sete vezes superior ao de menores espanhóis.
Rosto da pobreza
A situação das crianças é tão alarmante, segundo os autores do relatório, que a Espanha se tornou o país com maior taxa de pobreza infantil da Europa ocidental.
"O novo rosto da pobreza na Espanha é o de um menor imigrante", definiu o informe.
Os autores também criticam os sucessivos governos espanhóis das últimas décadas por enfatizar em políticas sociais de proteção aos idosos, "abandonando as maiores bolsas de pobreza, onde estão as crianças".
Os índices da crise que já colocou a Espanha em nível de recessão técnica, segundo a Comissão Européia, agravam as circunstâncias: a taxa de crescimento caiu de 4% para 1,8%; o desemprego alcançou o pior nível da última década - com 2,53 milhões de trabalhadores na rua - e a inflação aumentou em 123%, passando de 2,2% para 4,9% em um ano.
Diante desse panorama, os imigrantes estão optando entre trabalhos alternativos ou recorrem à repatriação.
A primeira medida do governo foi ampliar o programa de retorno voluntário, que oferece passagem e ajuda financeira para os imigrantes dispostos a retornar a seus países. Com isso, o Ministério do Trabalho espera repatriar em torno de 100 mil imigrantes nos próximos meses.
Em 2007, sobrou verba do orçamento anual de 1,7 milhão de euros, mas desde maio de 2008 há filas de espera.
Brasileiros
Com cerca de 800 requisições à espera, os brasileiros estão entre as cinco nacionalidades que mais têm pedido para voltar, atrás de bolivianos, argentinos, colombianos e equatorianos. Mas o número ainda é considerado pouco.
"Calculamos que 75% dos latino-americanos insistem em ficar. Primeiro, porque não querem renunciar às licenças de trabalho e residência (condições prévias para o retorno); segundo, porque muitos não cumprem os requisitos estando ilegais; e terceiro, porque quando vêem que o processo não é imediato decidem procurar outras alternativas", disse Manuel Pombo, diretor da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A porta-voz do serviço de atenção aos imigrantes da Cruz Vermelha, Carmen de la Corte, acredita que, apesar da crise, muitos estrangeiros continuarão tentando se manter na Espanha.
"São trabalhadores flexíveis, passam de um setor a outro e têm mobilidade geográfica. Isso amplia suas possibilidades. Eles se adaptam melhor que os europeus aos tempos de crise", definiu.

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